Uma nova página começa ser escrita na história de São José do Cerrito com a ligação asfáltica com Lages. O município que na década de 70 tinha 17 mil habitantes não parava de acumular perdas do repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Com cerca de 9,6 mil habitantes, hoje, São José Cerrito corre contra o tempo para minimizar os impactos negativos herdados nas últimas décadas.
Por conta da redução da população, o índice de 1.0 do bolo do rateio dos recursos do FPM, despencou para o índice mínimo de 0.6. Resultado, São José do Cerrito vem amargando um encolhimento anual de receita superior a R$ 1,2 milhão. “Só neste quesito está evidenciado o tamanho da dívida social da União e do Estado para com nosso município. O resgate de parte dessa dívida está vindo com a consolidação asfáltica da BR-282”, avalia o prefeito Ruy de Amorim Ortiz.
Por muitos anos São José do Cerito foi tratado como o “primo pobre” dos municípios serranos. Detentor dos piores índices de Desenvolvimento Humano e Social o município dava um passo para frente e dois para trás. Esta postura começa ser mudada com a proximidade com Lages pela pavimentação. Uma viagem que durava até 45 minutos, hoje pode ser feita com a metade desse tempo. A alto-estima do cerritense está se elevando e segundo o secretário de administração Pedro Marcos Ortiz será resgatado tudo que se perdeu começando pelo moral da população.
“Já fomos o maior produtor de feijão de Santa Catarina. Temos as melhores terras da região. A melhor topográfica para a agricultura familiar e vamos rediscutir nossa vocação agropecuária analisando o potencial para fruticultura. Já temos o asfalto que era o impedimento maior”, analisa Pedro Marcos. O novo momento da economia cerritense passa pela agregação de valor da madeira. Seguramente mais de 95% das florestas exóticas cortadas deixam o município na sua forma bruta.
“Basta cortar a madeira, beneficiar e secar aqui, já vai gerar empregos e movimentação econômica. Aparentemente fácil de se fazer, mas isso não vinha ocorrendo na prática. E agora, temos tudo para mudar esta antiga retórica de que somos os coitadinhos”, desabafou o secretário de Administração. O discurso tímido ganhou entonação e para as lideranças cerritense, as lamentações a partir de agora, são desculpas dos fracassos do passado.
Mesmo que a pavimentação da BR-282 com Lages tenha demorado dez anos, equivalente há uma década, valeu a pena para os cerritenses. A obra pode ser considerada de longe, a mais cara e demorada da história de Santa Catarina. A cada mês se executou não mais que 275 metros de asfalto. Míseros 3,3 quilômetros ao ano. O dinheiro empregado na rodovia foi para o ralo do desperdício inúmeras vezes. Tantas foram às paralisações e os serviços perdidos. Mas tudo isso foi num passado que o cerritense não quer mais lembrar e o pensamento agora se volta para um horizonte de esperanças e reconquistas.
Um novo desafio pela frente
“A ligação asfáltica de Lages com o Cerito era uma dívida do governo do Estado e federal com nosso município. Por várias décadas penamos por esta obra. Hoje, nos sentimos aliviados. Mas ainda resta o outro trecho até Campos Novos. O sonho só estará completado quando esta ligação for realidade”. A declaração é do prefeito Ruy de Amorim Ortiz, que está buscando mobilizar a retomada dos 73 quilômetros em direção ao meio Oeste catarinense. A história da BR-282 no trecho do Cerrito é tão antiga quanto o processo de formação das cidades em cima da Serra.
Por volta de 1766, a estrada era apenas rota dos tropeiros paulistas que acabaram povoando os campos de Lages. Em 1958 houve o pedido de prolongamento da estrada ligando o Planalto Serrano ao Oeste. Mas, somente em 1970 aconteceu a primeira investida de execução de terraplenagem com vistas ao asfaltamento. A obra paralisou por falta de recursos. A época, Ruy Ortiz era prefeito e recorda que, “já se falava que a rodovia era prioridade desde 1950”.
O pesadelo finalmente transformou-se em sonho e realidade. Mas se por um lado os cerritenses se sentem no céu com o asfaltamento até Lages, por outro se encontram no inferno com a paralisação das obras até Campos Novos. A rodovia simplesmente não oferece sequer condições de trafegabilidade em alguns trechos. Mesmo assim, a prefeitura mantém oito linhas de transporte escolar. “Nossa malha viária é muito extensa. Da divisa com Lages até Vargem, são 90 quilômetros. E lamentavelmente 70% da população se concentra no trecho sentido a Campos Novos, onde temos”, pondera o prefeito.
Efetivamente o asfalto em direção ao Cerrito só começou a ser executado há dez anos. Foi no governo de Paulo Afonso Vieira que se realizou a pavimentação de 12 quilômetros, em 18 meses. Depois a obra foi parando, truncando e com muitos empurrões chegou ao município. No governo de Esperidião Amin, em 2000, foi executados apenas 3,5 quilômetros. Na mesma época a empresa AGR abandonou os serviços de terraplenagem do trecho de 53,4 quilômetros até Vargem e em novembro de 2001 não tinha mais nenhuma máquina na rodovia.
Desde 2001 o 10ª Batalhão de Engenharia de Construção vem executando a ligação asfáltica de Lages ao Cerrito. E, nesses cinco anos foram várias as ameaças e paralisações por falta de recursos. A injeção de R$ 5 milhões por parte do governo do Estado, foi decisiva para que se consolidasse o asfaltamento ao menos neste trecho, onde estão sendo feitas agora apenas as canaletas de drenagem pluvial.