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Consórcio democratizou a saúde

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Uma das pessoas mais respeitadas entre os profissionais de saúde da região,
Nalú Terezinha Júlio quebrou um paradigma na saúde pública. Idealizou com um grupo de estudo a implantação do Consórcio Intermunicipal de Saúde. Um órgão vinculado à Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), que realizou só em 2006, mais de 300 mil procedimentos.
Coordenadora dos serviços, ela foi mais longe. Conseguiu ano passado o
reconhecimento e o credenciamento do Consórcio pelo Ministério da Saúde. E abre caminho agora, para a construção da sede própria do órgão que se tornou referência estadual em saúde pública.
De simples atendente de Posto de Saúde, Nalú atingiu o mais alto nível da
hierarquia da saúde. Foi gerente Regional. Até assumir o desafio de
mergulhar num dos mais graves problemas públicos. As intermináveis filas de espera de milhares de serranos por serviços de saúde.
E, ainda continua navegando nas águas turvas da saúde pública. Como revelou nesta entrevista:

Como nasceu o projeto do Consórcio de Saúde?

Nalú Júlio: Até os anos de 1988 e 1989, os serviços de saúde pública eram
oferecidos apenas pelo governo federal, estadual e municipal. E só às
pessoas que trabalhavam. Quem não tinha vínculo empregatício ficava à margem do atendimento. Com a criação do Serviço Único de Saúde, o Sus, expandiu o atendimento a todas as pessoas. Junto vieram as primeiras municipalizações de serviços. Uma orientação da Lei 8.080 abriu a possibilidade de criação de Consórcios de Saúde. E neste vácuo iniciamos nosso trabalho.

Porquê? Os municípios não conseguiam atender sua população?

Nalú: Os de menor porte não tinham condições de contratar serviços
especializados. Mas consorciados passaram a dividir custos e superaram esta dificuldade. Foi o que aconteceu na prática. E na região tivemos junto com Chapecó, o primeiro Consórcio de Saúde do Estado. 

De lá para cá, já foi implantada até uma policlínica? É isso?

Nalú: Somos o único Consórcio no Estado com esta estrutura. Os demais
atendem só a questão administrativa. Compram e distribuem serviços aos
municípios. Nós compramos, distribuímos e ainda temos atendimento oferecido dentro de uma estrutura independente. É a policlínica que dispõe de atendimento médico e alguns exames como ultra-sonografia e
eletrocardiograma.

E o que mudou desde que houve o reconhecimento e o credenciamento do Consórcio no Ministério da Saúde?

Nalú: Desde outubro do ano passado, estamos prestando contas dos serviços ao Ministério da Saúde. E cada município passa ter uma cota de recursos como auxílio de investimento. Agora realmente está havendo uma contrapartida do governo federal. Antes os serviços eram bancados apenas pelas prefeituras. Quando estivermos com todos os serviços ativos, o incremento de recursos na região será de R$ 43 mil mensal. Creio que lá por junho ou julho desse ano.

O credenciamento é só para serviços básicos?

Nalú: Não. Estamos credenciados até para serviços de média e alta
complexidade, como uma tomografia computadorizada. Nós temos serviços que nem o Sus oferece. Como o exame oftalmológico de angiofluoreceniografia. Nós apresentamos o serviço para o Sus e ele paga sua parte. O restante forma uma série histórica. Quer dizer, vai ser provado para o Sus que o valor previsto não é suficiente. Com isso há possibilidade de pleitearmos o incremento de recursos

Qual sua análise do crescimento da demanda do Consórcio?

Nalú: Quando iniciamos eram apenas duas clínicas e três médicos. Atendíamos em média 360 pacientes por mês. Hoje são mais de 300 mil procedimentos por ano. Do balanço de 2006, temos 70 mil procedimentos custeados pelas prefeituras com valor reduzido. Só exame foi mais de 40 mil. Consultas médicas mais 30 mil atendimentos. Mais uma demanda de quase 200 mil procedimentos a pacientes que custearam os próprios exames. A economia proporcionada aos municípios foi superior a R$ 3 milhões. Dinheiro que eles não teriam, se fosse para tirar dos cofres públicos. E a perspectiva este ano é de crescimento de mais 20%, porque infelizmente ainda existem filas de espera.

Mas que estrutura possui o Consórcio para tantos atendimentos?

Nalú: A grande demanda do Consórcio está associada à policlínica. Além
disso, temos mais de 20 especialidades médicas. Cadastrados são 50 médicos e pelo menos 20 clínicas inscritas para atendimento.

O benefício não é apenas ao paciente. Os prestadores de serviços
encontraram no Consórcio um grande filão. Procede?

Nalú: Sim. Se esses pacientes não fossem beneficiados pelo serviço do
Consórcio, simplesmente não teriam acesso. Logo, quem ganha com isso
primeiro é o paciente. O município que consegue dar vazão às demandas da
saúde e o prestador do serviço que se mostra parceiro do poder público.
Neste contexto, um não vive sem o outro.

O que é o futuro do Consórcio de Saúde?
Nalú: Se consolidar como a saída para resolver os problemas de saúde dos
municípios pequenos. Ele já se tornou parte integrante da solução dos
problemas coletivos. E até onde vai chegar, só Deus sabe, porque saúde é um processo contínuo de aprendizagem, evolução e aperfeiçoamento.


Perfil

Nalú Terezinha Júlio
Idade: 45 anos
Solteira
Formação: Educadora e administradora de serviços de Saúde
Especialização: Atendimento humanizado de saúde.
Referência: Há mais de 20 anos se dedica à saúde pública