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Uma região que depende do asfalto

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     SE ARRASTANDO há três anos, as obras de pavimentação da SC-439, entre Urupema e Rio Rufino serão retomadas, efetivamente, na próxima semana. É o que esperam os moradores dos dois municípios que já viram duas paralisações e começam a ficar desacreditados.
Tanto a Secretária de Desenvolvimento Regional de São Joaquim Solange Pagani, quanto representantes da empresa Dalba Engenharia, garantem que a terceira tentativa de concluir o asfaltamento depende apenas do deslocamento das máquinas do Paraná. Desde o início de maio, o governo do Estado deu sinal verde para a retomada. Até essa semana, uma equipe de quatro operários percorriam o trecho numa Kombi, observando os pontos mais críticos.
Em meados de novembro do ano passado foi liberado R$ 1,5 milhão pelo governo do Estado. A retomada do trabalho durou um mês. A Dalba Engenharia liberou os operários para o feriado de final de ano e eles se esqueceram de voltar ao canteiro de obras. Já se passaram cinco meses e agora se acendeu uma luz no fim do túnel com uma nova ordem de serviço.
Por conta da paralisação até agora "inexplicável", o britador onde eram retiradas pedras está abandonado e tomado pelo mato. Nos primeiros quatro quilômetros, saindo de Rio Rufino sentido a Urupema, o tráfego é quase impossível. Imensas pedras, buracos e água na pista, além de locais estreitos indicam o abandono.
Quando da primeira paralisação de 30 de agosto a novembro do ano passado, não houve perda nos serviços executados. Como a paralisação agora foi mais prolongada a previsão é que ao menos 20% dos serviços tenham de ser refeitos. E isso demandará no mínimo 90 dias de trabalho, além de encarecer o custo.
A retomada dos trabalhos deverá ser com a conclusão do levantamento topográfico até Rio Rufino. O que mais dificulta na execução da obra é o excesso de umidade. Dos 19 quilômetros da rodovia, em 15 foi colocada base com lascão e pó de brita, chamado "rachão travado". Foram realizados também 17 quilômetros de drenagem.
O asfaltamento entre Urupema e Rio Rufino deveria ter sido concluído em 2009. Além de não ter ficado pronto, certamente custará bem mais que os R$ 9.9 milhões orçados inicialmente.

No fio da esperança

Um dos mais antigos moradores das margens da SC-439 em Urupema, Oracides Moraes Ribeiro (70), disse que nunca viu a rodovia numa situação tão ruim. Ele acredita que o asfalto chegará, mas admite que desde o início do ano a população está abandonada. "O asfalto é um sonho. Mas por enquanto vivemos um pesadelo", declarou.

Um cartão postal

O entardecer nesses dias de inverno transforma a paisagem ao longo da SC-439, entre Painel e Urupema. O pôr do sol e a altitude da rodovia remetem, quem passa pelo local, às regiões mais visitadas da Europa. Bandos de papagaios cruzam o céu em busca de abrigo e de pinhão. O trecho de 26 quilômetros é o único pavimentado até agora em toda extensão da rodovia até Grão Pará.
São quase 130 quilômetros de paisagem singular entre a SC-438 até o Sul do Estado. Para quem mora às margens do trecho pavimentado da SC-439, a vida mudou como da água para o vinho, depois do asfalto. Mudanças mais significativas são esperadas para depois do asfaltamento do trecho entre Urupema e Rio Rufino. Será o canal de ligação com a BR-282 e rota dos turistas do litoral que sobem a serra em busca do frio. Por conta dessa obra "encalhada" até Painel está sofrendo.

Bacia leiteira

"O asfalto tem uma importância incalculável para nós. Se tivesse asfalto eu não poderia transportar esse gado como estou fazendo. Nossa esperança é que o governador Colombo atenda esse apelo de quem mora no Vale do Canoas". O depoimento é do produtor rural Ilvio Blomer, morador da localidade de Rio do Tigre, em Rio Rufino. Ele disse que foram inúmeras medições e até pontes e bueiros foram implantados sob o argumento de que o asfalto estava próximo.
A maior bacia leiteira da Serra Catarinense se concentra no Vale do Canoas, entre Urubici e Rio Rufino. Na mesma região está também, a maior produção de hortaliças. Para José Carlos Fernandes Machado, que há 20 anos produz verduras numa das vargens do Canoas, a pavimentação da SC-439 revolucionaria a economia.
"Nossa maior dificuldade é escoar a produção. Aqui tudo que planta dá, mas o difícil é tirar a mercadoria para o comércio", explica o produtor. Por ser um dos trechos da rodovia com muitas baixadas, a futura pavimentação demandará provavelmente imensos aterros.

Rodovia será redenção econômica

Dez meses. É o novo planejamento físico financeiro para conclusão dos 19 quilômetros da SC-439, entre Urupema e Rio Rufino. A ordem de retomada dos serviços foi dada este mês.
Para o prefeito de Urupema Amarildo Gaio, a pavimentação representa a redenção econômica e turística. Para ele, a ligação asfáltica a Painel é como ter o acesso do turista pela "porta da cozinha". E quando o asfaltamento com Rio Rufino estiver pronto, será como dar acesso ao turista pela "porta da sala".
"É simples. De onde vem o grande fluxo de turista em busca do frio, neve, gastronomia e das geadas? Vem do litoral. Sendo pavimentado este trecho da SC-439, os visitantes entram no eixo turístico quando deixam a BR-282 em direção a Rio Rufino", defende o prefeito.
A pavimentação daquele trecho deve impulsionar, também, empreendimentos de hotelaria, pousadas e restaurantes. Hoje o turista se hospeda em Lages e passa o dia em Urupema e esta realidade deve mudar com o asfaltamento da rodovia.
Segundo um levantamento da prefeitura, vários empreendedores adquiriram terrenos às margens da SC-349 e estão esperando para investir. Desde que foi implantada, em 1982, a ligação com Rio Rufino está entre as rodovias a ser asfaltada.
O prefeito de Rio Rufino, Ademar de Bona Sartor sugere, inclusive, montar uma comissão permanente de acompanhamento às obras. "Se esta rodovia não for pavimentada agora, enquanto o governador é da região, pode esquecer. O cavalo está passando encilhado", alertou.
A relação comercial Rio Rufino e Urupema será o primeiro grande beneficiado com a rodovia. E pelo que informou o prefeito Sartor, os turistas chegam em Rio Rufino e recusam-se trafegar pela SC-439 que está em péssimas condições.
A ligação asfáltica ajudaria, inclusive, a pressionar o Governo do Estado a asfaltar o último trecho de 30 quilômetros da SC-349, entre Rio Rufino e Urubici. Assim todo Vale do Canoas estaria interligado e a produção de hortaliças poderia mais que dobrar. O trecho até Urubici não existe nem projeto. Mas já foram feitas inúmeras sondagens e o traçado da rodovia está praticamente definido. O que faltaria é vontade política do governo e pressão das milhares de famílias que e dependem da rodovia.


Obras em ritmo acelerado

Na placa do governo do Estado as inscrições: Pavimentação de 20,6 quilômetros. Prazo 720 dias. Recursos próprios da Construtora Toniollo, da ordem de R$ 29.6 milhões. E realmente, a pavimentação da SC-439 partindo de Urubici sentido à Serra do Corvo Branco segue a todo vapor. São 16 quilômetros de asfalto já implantados e 14 quilômetros de base pronta para receber o pavimento definitivo.
A um quilômetro onde inicia o pavimento próximo da Serra do Corvo Branco, estão sendo construídas canaletas de proteção nas encostas de morros. Até final do ano, o asfalto chegará no perímetro urbano de Urubici beneficiando milhares de famílias do Vale do Canoas. Restarão apenas seis quilômetros até o topo da serra que demandará um projeto especial de engenharia pelas características de solo e vegetação.

Remanescente da Serra

Há 60 anos morando na localidade de Canudos, Dorvalino Munaretto foi um dos operários que ajudou a abrir picadas na Serra do Corvo Branco. Aos 68 anos, ele ainda planta milho, batata, tomate, cenoura, pimentão e lida com o gado.
Para Dorvalino, a SC-439 será um marco do progresso. "Ainda espero ver esta estrada que ajudei a abrir com picareta, sendo asfaltada até em cima da serra", disse. Nos finais de semana centenas de turistas chegam à Serra do Corvo Branco e com o asfalto, devem saltar para milhares os visitantes deste cartão postal de Urubici.

Símbolo carente de asfalto

Uma montanha com cerca de cem metros de altura cortada ao meio. Uma rodovia esculpida na rocha. Artesanalmente. É sem dúvida, um dos cartões-postais da Serra Catarinense e um dos pontos mais bonitos de Santa Catarina.
Mas que ainda depende de infraestrutura básica, o asfalto. A escalada até a Serra do Corvo Branco é indescritível. Imensas cachoeiras são avistadas a quilômetros de distância e montanhas que lembram filmes de ficção. Alguns locais ainda intocados pelo homem.
Não existe acesso ou trilhas. Após a travessia entre as montanhas, as curvas obrigam quem trafega a quase parar o veículo. Tamanha a inclinação das curvas e o risco de acidente num penhasco em que não se enxerga o fundo.
Como descreve o prefeito, Adilson Jorge Costa, "quando Deus fez o mundo voltou a Urubici para dar algumas pinceladas a mais na Serra do Corvo Branco". Atento à pavimentação da SC-439, Adilson Costa explica que as obras iniciaram da serra para o perímetro urbano para que os caminhões não danifiquem o pavimento.
Só no feriado de Páscoa, mais de 200 veículos com lotações e famílias inteiras passaram em direção à serra. Mesmo com toda falta de infraestrutura existente, pois no trecho após o corte das montanhas sentido a Grão Pará, pedras e buracos são o que mais existem na rodovia de chão batido. Mesmo assim, a realidade econômica de Urubici tem mudado graças às belezas cênicas das escarpas da Serra do Corvo Branco.
Pousadas e rede hoteleira lotadas nos finais de semana tem sido comum em Urubici. "Tem de observar que o asfaltamento da SC-439 não beneficiará apenas a Serra do Corvo Branco, mas facilitará para quem quer chegar ao Morro da Igreja e a Pedra Furada. Tem lá, a Gruta de Santa Tereza e as cavernas com inscrições rupestres e a cascata do Véu de Noiva. Essa rodovia será o alicerce de uma nova era de desenvolvimento turístico", afirma o prefeito.
Com 1.822 metros de altitude, o Campo dos Padres está cada vez mais perto por conta do asfalto da SC-439. Mas não é só isso, a rodovia tem largura de estrada federal, com áreas de refúgio tanto para turistas quanto caminhões. O projeto contempla até redutores de velocidade e calçadas nas comunidades de Santo Antônio II, Santa Tereza e São Pedro.
O deslocamento para a região Sul do Estado pela SC-439, mesmo tendo apenas parte do trecho asfaltado, diminui em mais de 40 quilômetros em relação ao trecho pela Serra do Rio do Rastro. O que observa Adilson Costa é que Urubici não precisa de empresas nem grandes empreendimentos para gerar empregos. "Basta pavimentar as rodovias e os avanços serão consequência para o desenvolvimento", desafia o prefeito.