PREVISTA como um dos trechos do futuro Anel da Madeira, a SC-457 entre São José do Cerrito e Curitibanos é hoje, um símbolo do abandono. São 38 quilômetros de buracos, pedras, poeira e muita lama em dias de chuva.
O que deveria ser uma rodovia estadual para facilitar o trânsito, tem causado transtornos aos moradores. Da localidade de Bom Jesus, no Cerrito, até o trevo de acesso ao perímetro urbano de Curitibanos, na BR-470, a rodovia não recebe melhorias há pelo menos seis anos.
Principal eixo turístico da Rota do Araçá, onde estão sete fazendas de turismo, a SC-457 é via de escoamento de ao menos 33% da produção agrícola de São José do Cerrito e de parte significativa das lavouras de Curitibanos.
O secretário de Administração e Planejamento do Cerrito, Keni Wilder Muniz, explica que foi apurado o perfil dos turistas que visitam as propriedades rurais e conclui-se que a SC-457 é o principal obstáculo para que mais turistas procurem as fazendas. "Os turistas entram na rodovia com carro de passeio e não têm experiência de dirigir numa situação tão adversa. Eles não voltam mais", lamenta o secretário.
Moradores de localidades como Bom Jesus, Araçá, Campina Grande, Rincão dos Albinos, Fazenda Marli e Fazenda Lipos, confirmam o arrependimento dos visitantes quando desafiam a rodovia. Nas localidades margeadas pela SC-457 são cultivadas lavouras de soja, milho, feijão e uma intensa produção de pecuária.
Outra atividade econômica que começa ganhar corpo é a criação de ovelhas. Foi reativado o Núcleo de Criadores de Ovinos e a esperança é que o Estado recupere a rodovia antes da chegada do período mais crítico do inverno. No lado do Cerrito são 19 quilômetros até a ponte do rio Canaos e quanto mais se desloca em direção a Curitibanos, piores são as condições de tráfego.
A SC-457 tem importância vital para São José do Cerrito e representa um canal de desenvolvimento e de interligação alternativa com o Meio-Oeste e o Planto Norte. Mas é apenas isso, pois continua abandonada.
"Desenvolvimento depende das estradas", admite Jurandi
Ciente das péssimas condições em que estão algumas rodovias da Serra Catarinense, o secretário Regional de Lages, Jurandi Agustini, afirmou que, "sem estrada não há desenvolvimento". Há dois meses no cargo, ele pediu que os moradores do Cerrito tenham calma, porque a intenção é colocar a SC-457 entre as rodovias com prioridade a ser asfaltada na região.
"Tenho plena consciência da importância desta rodovia. É um dos elos do Anel da Madeira. Já estou em contado com o secretário Regional de Curitibanos para estudarmos uma solução conjunta a este trecho", revelou Jurandi.
Para a agricultora Terezinha Corrêa, da localidade de Araçá, algo tem de ser feito com urgência para melhorar as condições de tráfego. Há 27 anos ela convive com o drama da estrada e confessa, "asfaltar aqui, só em sonho. Infelizmente não acredito".
A mulher só sai de casa a cavalo, em dias de chuva. O vendedor Ivanor Mazieiro não é diferente. Ele passa uma vez por semana na rodovia e disse que os caminhões de entrega de bebidas quebram toda semana. "Sem contar os danos nas mercadorias. É lastimável as condições de tráfego", desabafa.
Audiência vai propor pavimentar a rodovia
Mobilizar deputados, prefeitos, vereadores e lideranças regionais para discutir as problemáticas da SC-457 e levantar uma bandeira pela pavimentação. É o que vai propor o prefeito Everaldo Ransoni nos próximos dias.
Ele está contactando com proprietários de fazendas de turismo rural nas margens da rodovia, para preparar um local à audiência. "A rodovia é estadual, mas quem está sendo castigados são os moradores. O traçado da estrada é relativamente novo e não demandará grandes cortes numa eventual pavimentação. Temos de construir esta proposta", defende o prefeito do Cerrito.
Enquanto não avança nenhuma conversa sobre a pavimentação, o prefeito espera que o governo do Estado realize melhorias. É que pela SC-457 há um grande fluxo de caminhões transportando madeira e a tendência da rodovia é piorar o tráfego.
Linha regular de transporte intermunicipal e de transporte de alunos, a SC-457 vem tendo apenas serviços paliativos. Ano passado a prefeitura cedeu o óleo e o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) disponibilizou algumas máquinas para fazer o patrolamento e remoção de pedras. Mas foram poucos dias e num curto trecho da rodovia.
O prefeito tentou reeditar a parceria com o Deinfra este ano, mas não obteve êxito. O engenheiro responsável pelo Deinfra, Luiz Miranda, informou que a SC-457 é uma rodovia não pavimentada e a responsabilidade é da Secretaria Regional. "A competência do Deinfra é com as rodovias pavimentadas", explicou. Parte do maquinário que havia no Deinfra foi deslocado para a Secretaria Regional e a recuperação daquele trecho depende de uma decisão do secretário.
O receio do prefeito cerritense é com a proximidade do inverno. O excesso de chuva e umidade podem piorar as condições de trafegabilidade. "O período de insolação é mais curto e a estrada úmida por mais tempo favorece para que aumentem os buracos. Se deixar para recuperar quando não estiver mais passando, o custo será bem maior", frisa Everaldo Ransoni.
O que sabem os moradores é que, grande parte do que produzem nas lavouras, se perde na rodovia. Seja pelas péssimas condições de rodagens ou pelo alto custo do transporte. Para trafegar pela SC-457 os motoristas exigem valor diferenciado de frete.
Na audiência proposta pelo prefeito se buscará mostrar aos participantes, quando se produz nas margens da rodovia e quanto se perde. Vai ser tentado apurar também o número de usuários daquele trecho.
Fazendas de Turismo à espera do asfaltamento
Operário de serraria na localidade de Araçá, Irineu Machado de Souza, passa todos dias pela SC-457. E lembra que foram muitas as promessas de asfaltamento. Em especial durante período pré-eleitoral. "Nunca vi fazerem medição. Mas promessas sempre aparecem quando se aproxima uma eleição. Até agora, estamos só no vamos ver", cobra o morador.
O fluxo se a rodovia fosse asfaltada, mais que triplicaria segundo os moradores. É que muitas pessoas preferem ir a Curitibanos passando por Lages, Correia Pinto e Ponte Alta pela BR-116, para não correr o risco de ficar "empenhado". Quem mais amarga esta falta de infraestrutura são os empresários de turismo que têm um desafio a mais para se manter na atividade.
Gionei Marian, proprietário da fazenda Rancho de Tábuas, na localidade de Rincão dos Albinos, lembra que quando o turista chega na fazenda a cena clássica é olhar embaixo do veículo. "Ele quer saber se não teve danos ao passar pela SC-457. Para nós esta rodovia é uma questão de sobrevivência", argumenta o empresário em nome dois demais empreendedores