Mais de meio milhão de reais foram lançados esta semana, numa conta especial do Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico, Meio Ambiente, Atenção à Sanidade dos Produtos de Origem Agropecuária e Segurança Alimentar da Serra Catarinense (Cisama). O dinheiro será aplicado na compra de 18 automóveis zero quilômetro e equipamentos de escritório para implantar os serviços de inspeção sanitária em toda região.
O edital de concorrência do maior investimento já realizado em um programada da Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures) será publicado nesta semana, com data de abertura das propostas prevista para final do mês. O presidente da Amures, Amarildo Gaio, priorizou esta meta desde o início do ano e disse que será um momento especial, porque serão dadas condições de implementar, efetivamente, o Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa).
"Agora, o pequeno produtor, aquele que tem seu agronegócio, poderá agregar valor aos seus produtos. Seja uma unidade de produção de embutidos de carnes ou uma panificação rural. Haverá inspeção e um selo que identificará os produtos", explica o presidente da Amures. Os veículos, um para cada município e os escritórios equipados são a condição mínima para que os técnicos das prefeituras prestem assistência e orientação aos empreendedores de agronegócios.
Para viabilizar a compra dos veículos, os municípios deram uma contrapartida de mais de R$ 200 mil. E o Ministério do Desenvolvimento Agrário outros R$ 332 mil. A parceria só foi possível através do Cisama, cujo diretor executivo Selênio Sartori, confirmou os recursos federais numa conta especial. "Este convênio nos permitirá desenvolver a agricultura familiar pela agregação de valor. O programa visa dar acesso à inspeção sanitária de produtos de origem animal e vegetal", reiterou.
Além dos veículos, serão comprados laptops, projetores de multimídia, smatphones, impressoras, mesas e cadeiras e outros equipamentos, todos em número de 18. O presidente da Amures salienta é que os equipamentos e os veículos são apenas meios para se viabilizar uma grande ação socioeconômica. Amarildo Gaio lembra que o Ministério Público Estadual é um parceiro neste processo, pois o hoje procurador Geral de Justiça, Lio Marin, participou de reuniões na Amures para auxiliar a implantação o Suasa.
"O maior ganho nisso tudo é a democratização do serviço de inspeção sanitária com participação da iniciativa pública e sociedade, pois seu foco é o controle de qualidade e a inserção dos produtos no mercado consumidor. Mas, acima de tudo, manter o homem no meio rural em condições dignas de trabalho e renda", frisa Gaio, acrescentando que foi da união entre os prefeitos que surtiu este resultado.
Sobre a liberação do dinheiro para a compra dos veículos, Amarildo Gaio diz que foram inúmeras viagens a Brasília e audiências para o contingenciamento dos recursos. E lamenta que o "Governo do Estado não tenha participado do projeto com apoio financeiro, apesar de ter sido convidado". O presidente da associação de municípios destaca o programa do Suasa como uma ação dinâmica e perene. E só quando os filhos dos produtores rurais forem capacitados se completará mais uma etapa, porque será o indicativo da cultura que passa de uma geração para a outra.
Anita Garibaldi possui ao menos dez agroindústrias familiares
Levantamento da Epagri aponta que na Serra Catarinense existem cerca de dois mil produtores de queijo artesanal. Eles representam uma fração no universo potencial de agroindústrias familiares. Em todos os municípios existem iniciativas que vão do processamento de morango até panificação. Na Lagoa da Estiva em Anita Garibaldi, por exemplo, existe além da unidade de processamento de embutidos uma unidade de fabricação de queijo colonial.
A coordenadora de projetos do Cisama, Lucia Padilha de Arruda Ide fez um levantamento preliminar e identificou em todos os municípios ações com potencial de integração ao Suasa. "Em Urupema, há dentre outros produtos, o morango que pode ter agregação de valor. Em Painel temos a truta defumada. Cerro Negro o mel e Rio Rufino, o salame, chás e vime. Essas agroindústrias já existem e são ações isoladas, mas que agora poderão se enquadrar com um custo baixo, às normas legais de produção e comercialização", explicou Lúcia Ide.
Só em Anita Garibaldi, já foram identificadas dez agroindústrias familiares. O Secretário de Agricultura e responsável pela implantação do Suasa, Henrique Menegazzo acredita que dar condições para que os municípios possam implantar a inspeção sanitária é fundamental. "Esses veículos e os escritórios equipados representam um grande passo para que possamos ajudar as famílias a se manterem no meio rural", afirmou.
Além da unidade de processamento em construção na Lagoa da Estivam, a prefeitura de Anita Garibaldi está ajudando outras agroindústrias a se adequarem. A assistência e orientação é dada se custo aos agricultores familiares. Um agrônomo, um médico veterinário e um técnico agrícola da prefeitura ajudarão em Anita Garibaldi, a operacionalizar a inspeção nas unidades agroindustriais.
Embutidos de carne
Agroindústria familiar em fase de crescimento
Há três anos trabalhando exclusivamente com derivados de carne de porco, o agricultor familiar rural Cláudio Menegazzo, pode ser um dos primeiros beneficiados com inspeção sanitária e certificação de seus produtos. Em duas semanas, ele concluirá a construção da unidade de embutidos, na localidade de Lagoa da Estiva.
Defumados como costela, bacon, copa, queijo de porco, banha, salame e torresmo contemplam a pauta da agroindústria familiar de Cláudio Menegazzo. Em média, ele processa 300 quilos de carne por semana, numa escala crescente nos últimos meses. Vizinhos, amigos e familiares são os principais clientes do agricultor familiar que atende na porte de casa. Isso, até que esteja pronta a unidade de processamento que custará cerca de R$ 50 mil.
"Vendo de quilo em quilo e não venço. Todo dia o pessoal pede mercadoria. É isso que motiva a produzir mais e melhor", revela Cláudio Menegazzo, que reconhece que trabalhar com embutidos demanda muita mão de obra, mas compensa por ser uma atividade rentável. A sala de processamento de embutidos foi improvisada numa antiga garagem. É lá que o agricultura familiar, sua mulher e três funcionários cortam, moem, temperam e preparam os embutidos.
O projeto técnico da futura agroindústria de embutidos de Cláudio Menegazzo foi desenvolvido pela equipe de engenharia da Amures. Dentro dos padrões sanitários, a unidade terá sala de recepção, vestiário, armazenamento, manipulação e dentre outras dependências sala de expedição. O número de funcionários deve aumentar com a entrada em operação da unidade. E o volume de carne pode até dobrar.
"O que é bom tendo a agroindústria, é que estarei legalizado, dentro das normas e sem medo de trabalhar. Mas acima de tudo, continuarei no interior com minha família e tendo renda para criar meus filhos com dignidade", afirmou. O que tem como certo Cláudio Menegazzo é que será um momento antes e outro depois, à partir que comece a processar os embutidos na própria agroindústria.