Ainda é, obviamente, muito cedo para um balanço definitivo de vencedores e derrotados nas eleições municipais – até porque o resultado final só será conhecido com o segundo turno em muitas capitais e cidades importantes no jogo político e de peso econômico. Essas definições serão cruciais para partidos e candidatos a governador, deputados e presidente da República em 2014.
Independentemente dessas ilações sobre o futuro político do Brasil, não há dúvidas de que houve muitos ganhos para o país com a votação deste ano. Além do exercício da democracia pelos cidadãos na sua forma mais direta – direito negado aos brasileiros não muito tempo atrás, é bom lembrar -, a forma como decorreu todo o processo eletivo mostra o amadurecimento do país.
Especialmente por causa da Lei da Ficha Limpa. No seu primeiro ano de aplicação, mais de mil candidatos foram enquadrados na norma em todo o país nestas eleições municipais, segundo levantamento feito pelo Valor nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) – incluindo candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador. Somente em São Paulo, 95 postulantes ao cargo de prefeito tiveram suas candidaturas negadas pela Justiça Eleitoral do Estado. Em Minas Gerais, foram negadas 50 candidaturas ao governo municipal. Como essas decisões podem ser questionadas, isso não significa que o candidato tenha sido barrado da competição.
Além disso, o número de pedidos de ajuda ao Exército, para o envio de tropas que garantissem a segurança, foi menor desta vez em comparação com eleições anteriores.
A logística montada pela Justiça Eleitoral para a realização do pleito impressiona, a começar pelos números envolvidos. As eleições municipais brasileiras estão entre as maiores operações realizadas por uma democracia no mundo e ganharam um gigantismo ainda maior neste ano. Segundo levantamento do Valor, o país não é o maior em número de eleitores – é superado por Índia, EUA e Indonésia -, mas houve um aumento importante no exército de pessoas que se dispõem a competir por um cargo eletivo.
Nada menos que 481.446 candidatos concorrem às vagas de prefeito, vice-prefeito e vereador, porta de entrada e base da pirâmide política. O número representa um aumento de 26,6% em relação à última eleição municipal, em 2008, quando havia 380.150 candidatos. Parte da explicação para o crescimento tem a ver com o maior número de vagas a vereador, que subiu de 51.992 para 57.422, com a autorização para os Municípios que mudaram de patamar de eleitorado. O aumento, porém, é de 10,4%, enquanto o interesse pelas cadeiras na Câmara Municipal cresceu 29%.
Houve avanços também na tecnologia aplicada pela Justiça Eleitoral com o aumento do uso da biometria. Todos os eleitores dos Estados de Sergipe e Alagoas só puderam escolher seus candidatos depois de terem suas identificações confirmadas na ponta dos dedos. Nestas eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estendeu o uso da biometria para mais de 7,7 milhões de eleitores, atingindo um total de 299 Municípios de 24 Estados do país.
Além disso, para evitar ataques de hackers, a urna eletrônica não tem acesso à internet ou a qualquer outro tipo de rede externa. Para testar a segurança de seus sistemas, informa o TSE, o equipamento foi submetido a uma bateria de ataques de hackers de cinco universidades do país, além da inspeção e teste de 24 investigadores de tecnologia. Ninguém conseguiu acessar os dados, já que tudo fica armazenado em sistemas de criptografia. Dessa forma, o voto só é conhecido quando a informação é retirada da urna e enviada para um computador central de grande porte, que decodifica a informação e computa o voto do eleitor.
A eleição envolveu o uso de 501,9 mil urnas em todo o país. Desse total, 35 mil são equipamentos novos, adquiridos para atender o crescimento do eleitorado. As máquinas, que têm vida útil de dez anos, atenderão os mais de 138,5 milhões de eleitores do país. A maioria dos eleitores brasileiros tem entre 25 e 34 anos e é formada por mulheres (51,9%). Foram, ao todo, mais de 3 mil zonas e juízes eleitorais, além de 436,7 mil seções eleitorais.
A Justiça Eleitoral vai contar com 1,69 milhão de mesários, dos quais 1,27 milhão foram convocados e o restante, 427 mil, são voluntários. Segundo o TSE, cada voto do cidadão custa em torno de R$ 4, considerando todos os gastos atrelados à eleição. É barato pelos resultados benéficos para o país.
Fonte: Valor Econômico/AMURES