Pelo terceiro ano consecutivo, a Comissão de Finanças da Assembleia Legislativa deve aprovar neste sábado (02/07), a inclusão da SC-370 que liga Rio Rufino a Urubici entre as prioridades do Orçamento Regionalizado de 2016, da microrregião de São Joaquim. E ano que vêm, deve repetir o feito. E no outro ano, mais uma vez. O imbróglio dessa estrada, se arrasta há mais de 40 anos quando a rodovia tinha nomenclatura de BR-475.
A audiência do Orçamento Regionalizado da Assembleia Legislativa deveria forçar o governo do Estado a executar as prioridades indicadas pelas entidades que representam a população. Mas na prática, isso não acontece. Apesar do presidente da Comissão de Finanças, deputado Marcos Vieira, afirmar em entrevista que um novo ciclo está iniciando.
“Desde 2007, quando se iniciaram os debates sobre o Orçamento Impositivo e após a sua aprovação em 2014, o Orçamento Regionalizado da forma como estamos realizando é uma das ferramentas mais importantes para o cidadão poder definir as suas prioridades e assim o governo do Estado, a partir de agora, tem a obrigação de realizá-las”, declarou o deputado.
Os 30,3 quilômetros que separam Rio Rufino e Urubici consistem no único trecho da SC-370, que não está pavimentado e sem previsão de obras. Apesar do projeto executivo que custou R$ 1.9 milhão estar pronto desde 2013, não existe nem cogitação de obras.
A rodovia começa em Rio Rufino e castiga com abandono os moradores de seu entorno até o perímetro urbano de Urubici. Depois segue pavimentada num trecho de 20,6 quilômetros até localidade de Canudos, ainda em Urubici. Continua com chão batido até Grão Pará depois de atravessar a Serra do Corvo Branco, um dos cartões postais de Santa Catarina.
A SC-370 tem importância estratégica no escoamento da produção de leite, frutas, pecuária, hortaliças e turismo. Em Grão Pará, a obra que iniciou em abril de 2014 com prazo de dois anos para conclusão, já foi motivo de vários protestos dos moradores devido sua lentidão. Sua inauguração deveria ter sido em abril desse ano, mas até agora nenhum metro de asfalto foi colocado naquele trecho na rodovia.
Projeto executivo da SC-370 está engavetado
O projeto executivo de pavimentação da SC-370 foi elaborado pela Engevix Engenharia em 2013. O trecho inicia no entroncamento com a SC-112, rodovia que liga Rio Rufino a BR-282 até o entroncamento com a SC-110, em Urubici. Sob argumento de falta de recursos, sua execução física nunca foi nem mencionada pelas autoridades.
A Secretária Executiva da Agência de Desenvolvimento Regional de São Joaquim, Solange Pagani confirma que a SC-370 tem se repetido como prioridade número um, nas audiências públicas dos últimos anos, da Assembleia Legislativa. “É uma rodovia estratégica do ponto de vista econômico e turístico e sua execução está orçada em R$ 111 milhões”, informa.
Solange Pagani defende que mesmo sob promessas, a SC-370 deve continuar como prioridade no Plano Plurianual – PPA do Orçamento Regionalizado. “Quando essa rodovia estiver pronta encurtará em pelo menos 70 quilômetros a distância de Rio Rufino ao Sul do Estado. Vamos torcer para que o governador deixe encaminhada sua execução até o final de sua gestão” comenta.
Mesmo tendo custado quase R$ 2 milhões, o projeto executivo da SC-370 nunca saiu da gaveta. Só em desapropriações, o levantamento cadastral indica que 137 propriedades serão atingidas permanente ou temporariamente pela rodovia. São desapropriações de edificações como residências, centros comunitários e igrejas.
O projeto é bem completo e contempla estudos hidrológicos, geológicos, de pavimentação, drenagem, sinalização, estudo de tráfego, interseções, infraestrutura para iluminação, projeto ambiental e paisagismo, além de uma série de estudos complementares.
Só restaram ruínas de galerias, pontes e bueiros
O que pouca gente sabe é que a história da hoje SC-370 é tão antiga quanto a da BR-282. Até 2011 a sigla de nomenclatura da via era BR-475, que significava ser uma rodovia federal. Ela iniciava numa interseção da BR-282 e cortava o vale do Canoas por Rio Rufino e Urubici, como opção de rota para o sul do Estado, já que a BR-282 seguia sentido à Capital.
Na construção da BR-475, teve trechos que exigiram abertura de picadas na mata, especialmente na Serra do Corvo Branco. A estrada segue por Grão Pará, Braço do Norte, Gravatal até chegar em Tubarão, na BR-101. O traçado sempre teve um objetivo claro, o Porto de Imbituba.
Na década de 1970 a rodovia entrou no plano de prioridades federais, mas o dinheiro para sua pavimentação estimado na época em 65 milhões de cruzeiros, nunca chegou efetivamente ao destino. Se realizou até um ato para assinatura de convênio para a construção das primeiras pontes nas localidades de Rio do Tigre, Vacariano e Consolação.
O dinheiro acabou desviado para outras obras e a BR-475 nunca saiu do papel. O que resta hoje daquele tempo, são ruínas de galerias, pontes e bueiros do que uma dia, deveria ser o traçado de uma grande rodovia.