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Reportagem sobre Programa de Agroindústrias do Cisama ganha Prêmio de Jornalismo

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Uma reportagem sobre o incentivo e fomento às agroindústrias vinculadas ao Consórcio Intermunicipal Serra Catarinense (Cisama), intitulada Programa de Agroindústria da Serra Catarinense é Referência Nacional, produzida pelo jornalista Mauro Maciel, conquistou o terceiro lugar na 10ª edição do Prêmio Sebrae de Jornalismo.

A reportagem concorreu com outras 106 produções de todas as regiões de Santa Catarina. O anúncio dos vencedores aconteceu nesta quarta-feira, 13 de setembro, no auditório do Sebrae, em Florianópolis. Editor do Folha da Serra, Mauro Maciel foi pessoalmente acompanhar o anúncio dos vencedores.

O Prêmio Sebrae de Jornalismo tem como objetivo reconhecer as melhores matérias jornalísticas sobre empreendedorismo e pequenos negócios veiculadas na imprensa catarinense.

E com isso, estimular o empreendedorismo e a geração de oportunidade e novos postos de trabalho. Por ser um modelo para Santa Catarina, o Programa de Agroindústrias do Cisama que já recebeu técnicos até do Nordeste para conhecer suas as práticas, também foi vencedor no evento jornalístico do Sebrae.

“É o nosso primeiro prêmio estadual, desde a criação do jornal há quase três anos. Não basta uma boa reportagem, mas mostrar para Santa Catarina um programa tão relevante como o de agroindústrias do Cisama, foi o que resultou nessa premiação”, reconheceu Mauro Maciel.

A cerimônia foi transmitida ao vivo pelo canal do Youtube do Sebrae. O tema central do prêmio desse ano foi “A contribuição dos pequenos negócios para o desenvolvimento econômico e social do país”.

As reportagens que concorreram trouxeram temáticas que englobam o universo dos pequenos negócios, como empreendedorismo, produtividade e competitividade, inovação e startups, inclusão produtiva e sustentabilidade, transformação digital, políticas públicas e legislação, acesso a crédito, e empreendedorismo social.

Confira reportagem sobre Programa de Agroindústrias

Programa de Agroindústrias da Serra Catarinense é referência Nacional

Criado em 2009 como um instrumento para regulamentar e regularizar a cadeia dos produtos de origem animal na agricultura familiar, bem como sua comercialização e a geração de emprego e renda no meio rural da Serra Catarinense, o Consórcio Intermunicipal Serra Catarinense – Cisama, instituiu o Programa de Sanidade de Produtos Agropecuários. E implantou junto aos 18 municípios consorciados, o Serviço de Inspeção Municipal – SIM. 

Considerando que a especificidade dos produtos da região está relacionada à cultura, as tradições, a história, ao saber fazer, aos processos produtivos únicos, às condições ambientais e ao capital social, é que este programa foi concebido relacionando a identidade, o sentimento de pertencimento e o capital social para fortalecer o processo de territorialização.

Através do SIM, os municípios contrataram médicos veterinários para serem responsáveis pelos serviços que possui a finalidade legal de registrar agroindústrias que processem produtos de origem animal como cárneos, leite, mel, ovos, pescados e todos os seus derivados. Poucos meses após a criação do programa, começaram as primeiras regularizações de produtos de origem animal.

A partir do SIM presente junto às Secretarias Municipais de Agricultura e supervisionado pelo Cisama, o Programa de Agroindústrias se transformou em referência nacional, reconhecido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA através do Sistema Brasileiro de Inspeção – SISBI e exemplo para outros Estados.

Nesta perspectiva o Cisama busca registrar junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a marca coletiva “Sabor Serrano”, esta que já está em uso no mercado pelas agroindústrias.

Única ação do gênero em Santa Catarina, mantida com recursos das 18 prefeituras abrangidas pela Associação dos Municípios da Região Serrana – Amures, o Programa de Agroindústrias possui além da responsabilidade de registrar estabelecimentos de origem animal conforme legislação do SIM, a capacidade técnica de orientar e dar suporte à outras agroindústrias que não são de origem animal, mas que buscam a legalidade junto ao órgão sanitário competente.

Num acordo de cooperação técnica com o setor de engenharia da Amures, o Cisama fornece croquis, plantas e projetos técnicos às futuras agroindústrias. Além de visitas e orientação com médico veterinário responsável pelo SIM e equipe e até rótulo com marca própria denominado Sabor Serrano, para incentivar a comercialização dos produtos.

Sabor Serrano

O processo de utilização da marca já formalizou 62 agroindústrias familiares na Serra Catarinense, com mais de 360 produtos comercializados com a marca Sabor Serrano. Isso faz parte de uma estratégia de consolidação da marca territorial, segundo o diretor executivo do Cisama, Selênio Sartori.

“Em janeiro de 2020 o Ministério da Agricultura – MAPA reconheceu a equivalência técnica dos serviços prestados pelo Cisama, para adesão das agroindústrias ao Sistema Brasileiro de Inspeção – SISBI. A partir desse momento, os produtos inspecionados através do Programa de Agroindústrias podem ser comercializados em todo Brasil”, explica Selênio Sartori.

Outra estratégia para comercialização em todo território nacional, foi a obtenção do Selo Arte. A primeira concessão no Estado, ocorreu em 16 de setembro de 2020 para Queijaria Santo Antônio, de Air e Jacinta Zanelato, em Bom Retiro. A unidade supervisionada pelo Programa de Agroindústrias e pelo SIM obteve a certificação para o produto Queijo Artesanal Serrano.

Ainda no mesmo ano, o segundo Selo Arte no Estado, também foi de uma agroindústria ligada ao programa, com atividade de Mel de Melato da Bracatinga, do Apiário Lirion, em Correia Pinto. Nesta mesma perspectiva de abrangência de mercado, outras agroindústrias do programa aguardam para comercializar seus produtos pela equivalência do SISBI.

Estruturação do programa

O surgimento de agroindústrias familiares na Serra Catarinense, alicerçadas pelo Programa de Agroindústrias do Cisama obrigou os escritórios de Serviços de Inspeção Municipal – SIM, a se equiparem para atender as demandas.

De utensílios para escritório a veículos, notebooks, projetores, mesas, cadeiras e celulares, os municípios receberam para abraçar o que se tornou o maior programa de um consórcio público, de apoio às agroindústrias familiares do Estado. A frota de 18 veículos Gol, do Serviço de Inspeção Municipal – SIM que rodava desde 2011, foi renovada em 2022, por 36 veículos, sendo 18 Argo para ampliar os trabalhos das secretarias e outros 18 utilitários Fiat Strada para o serviço de extensão rural.

O Programa opera também, em parceria com outros programas do próprio Cisama e instituições, como Epagri. Através dessas parcerias são realizadas orientações pontuais, desde melhorias em sistemas de captação de água, proteção de nascentes e até como empreender em negócios voltados ao turismo.

Hoje, o Programa de Agroindústria tem inscritas 62 unidades com processamento voltado a produtos de origem animais ou panificados. E todos esses pequenos empreendedores sabem, que para conquistar mercado é preciso antes, formalizar e legalizar seus produtos.

Programa atingiu equivalência do SISBI para auditar serviços de inspeção

Desde fevereiro de 2020, o Programa de Agroindústrias do Cisama está autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, a auditar serviços municipais de inspeção sanitária e em agroindústrias para venda em todo território nacional.

Foram onze anos entre erros e acerto até conquistar o reconhecimento ao serviço do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal – SISBI-POA. O diretor executivo do Cisama, Selênio Sartori, lembra que foram muitos tropeços e dificuldade e que tudo, foi construído do zero.

“Como tudo na vida é compensador após tanto esforço, a equivalência exigiu dedicação e foi uma conquista de várias pessoas desde ex-prefeitos, médicos veterinários das prefeituras e especialmente, das agroindústrias familiares”, reconheceu.

Único Consórcio Público de Santa Catarina com um programa autorizado pelo Ministério da Agricultura a auditar agroindústrias que queiram comercializar seus produtos para todo Brasil, o Cisama abre com isso, caminho para fortalecer a economia regional.

A certificação de equivalência permitida ao Programa de Agroindústrias, muda inclusive o olhar dos jovens que estão fora do campo e cria perspectivas e oportunidades de futuros negócios. Na prática, o programa criado pelo Cisama conseguiu algo que vai muito além da equivalência. E o SISBI garante a chancela muito além da comercialização porque aumenta também, as responsabilidades com inocuidade e qualidade dos produtos.

Agroindústrias como a de fabricação de laticínios Keylex, que processa mais de dez tipos de derivados do leite e a Lingmone Agroindústria e Comércio de Defumados, ambas em Correia Pinto, estão sendo auditadas e buscam a equivalência ao SISBI. E é possível ainda este ano, possam vender seus produtos para todo território nacional.

Mercado Público abriu campo para comercialização

Organizar os empreendedores de agroindústrias, orientar a formalização e legalização não foi o bastante para o Programa de Agroindústrias do Cisama. Era preciso criar um espaço de comercialização. E foi nessa perspectiva que dos 40 boxes abertos no Mercado Público Municipal de Lages em 2021, 04 foram destinados como área de venda da produção das agroindústrias e da agricultura familiar.

Considerado um dos cartões postais da cidade, o Mercado Público é também um marco cultural, gastronômico e de iguarias da região. Tanto que, um dos boxes vinculados ao Programa de Agroindústrias tem quase a totalidade de suas vendas alicerçadas na vitrine daquele ponto comercial.

A Keylex Laticínios, de Correia Pinto, com uma gama de ao menos onze produtos derivados do leite, concentra o volume de vendas no balcão do Mercado Público. “Antes da abertura desse ponto comercial entregávamos nossos produtos para revendedores. Hoje nossa venda é direta, a margem de lucro aumentou e também o volume de vendas. Cerca de 90% das vendas são no box do Mercado Público”, explica o empreendedor Alex Buratto.

Está provado que o Programa de Agroindústrias tem ajudado a melhorar a vida das pessoas e comunidades que atravessaram períodos de vulnerabilidade econômica ou social. O programa tem gerado não apenas mais oportunidades de trabalho e renda, mas está estimulando a permanência das pessoas no meio rural e despertar para o empreendedorismo.

Legenda: Vendas nos boxes do Mercado Público representam grande parte dos negócios das agroindústrias

Pinhão Garcia: Do Cerrito para região do Alto Vale

O negócio que era apenas um complemento de renda, se transformou na principal atividade de sobrevivência da família Garcia, na localidade de Vargem Bonita, em São José do Cerrito. Operário do setor florestal, Valdori Garcia trocou o vínculo empregatício de vários anos, pelo desafio do negócio próprio e acabou criando a maior agroindústria de processamento de pinhão da Serra Catarinense.

A Pinhão Garcia é hoje responsável por grande parte do abastecimento de pinhão cozido descascado inteiro e moído da região do Alto Vale do Itajaí. “Quando pensei numa renda extra, levei 40 quilos de pinhão in natura para vender nos municípios do Alto Vale. Vi que o negócio era rentável e decidi monta a empresa. Procurei o Programa de Agroindústrias do Cisama e hoje, processo dez toneladas de pinhão ao ano”, contou Valdori Garcia.

Junto com a mulher Nereide e o filho Rafael, eles têm uma rotina intensa de abril a julho, durante a safra de pinhão. Para dar conta da demanda diária, Valdori levanta às 2 horas da madrugada para colocar o pinhão cozinhar e estar pronto às 6 da manhã, quando a família e mais quatro colaboradores chegam na agroindústria.

Depois de lavado e cozido, o pinhão é descascado em cilindros próprios, posto para esfriar, moído, pesado, embalado, lacrado em seladora, adicionado rótulo e vai para os freezers de congelamento. A venda de pinhão na Serra Catarinense é um negócio de quem paga mais. Não existe contrato de fornecimento ou de fidelidade de entrega pelos extrativistas.

Pinhão responde por 90% da renda da família

Depois da correria da semana, Valdori ainda intercala os finais de semana para compra de pinhão dos extrativistas. Percorre o interior em busca de matéria-prima para sua agroindústria de 120 metros quadrados. É dessa rotina que retira 90% da renda da família, na faixa de R$ 150 mil por ano.

A decisão de construir a agroindústria em 2016, levou Valdori a buscar informações do Programa de Agroindústrias e hoje reconhece: “Meu negócio foi graças a esse programa do Cisama”. Além dos rótulos, a orientação técnica fez a diferença nos negócios da Pinhão Garcia. A unidade usa cerca de 15 mil rótulos por ano.

Dos bons resultados do empreendimento, a Pinhão Garcia tem investindo em inovações. Como na perfuração de um poço artesiano de 140 metros de profundidade e na geração de energia sustentável, com instalação de placas de energia solar.

Além do desejo de ampliar o volume de produção, a Pinhão Garcia planeja passos importantes como refeitório aos colaboradores, pois a mão-de-obra no interior ainda é escassa. Valdori Garcia sabe que junto com a sazonalidade do pinhão a mão-de-obra é sua maior dificuldade. Mas sabe também, que tem no programa de agroindústrias do Cisama, um forte aliado para busca de solução, inclusive a esse problema.

Postagens em redes sociais fizeram surgir a Lingmone Defumados

Da união do apelido de infância de Jaqueline Madruga (Ling) e do nome da sócia Simone nasceu em 2015, a marca Lingmone. Uma das agroindústrias de embutidos e defumados mais conceituadas na Serra Catarinense.

O processamento e manipulação que hoje é tocado apenas por Jaqueline e o marido Silvio, começou das brincadeiras dos casais que postavam em redes sociais, os produtos feitos nos finais de semana.

Uma demanda surpreendente de pedidos de compra pelos embutidos resultou na abertura da agroindústria e definitivamente, Jaqueline trocou o emprego administrativo de restaurante para tocar o próprio negócio.

“Em final de 2017, o negócio foi formalizado quando aderimos ao programa de agroindústrias do Cisama. Tivemos toda orientação técnica para construir dentro dos padrões sanitários e legais”, relata Jaqueline. Uma vez respondidas as exigências legais, a Lingmone recebeu o selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e iniciou as vendas formais na região.

O rótulo do Sabor Serrano nos produtos da Lingmone mudou completamente o universo dos negócios. A cada 40 dias em média é solicitado mil rótulos ao programa de agroindústrias do Cisama. E uma vez por mês, a agroindústria recebe visita técnica do médico veterinário do SIM.

Situada na localidade Tributos, há quatro quilômetros da cidade de Correia Pinto, a Lingmone processa em torno de 250 quilos de carne por mês. E mesmo tendo 50% das vendas no Mercado Público de Lages, os produtos já foram para consumidores na Inglaterra, Japão, Itália, Portugal, França e outros países da Europa.

Boas práticas de manipulação

A participação em cursos de capacitação técnica levou Jaqueline a uma pauta com diversos produtos coloniais. Como salame tradicional, italiano, com queijo, linguicinha suína tipo frescal, linguicinha suína com queijo coalho, mantas suínas recheadas, linguiça campeira e pão de linguiça dentre outros.

O que torna os produtos da Lingmone diferenciados é a receita. Jaqueline afirma usar o mínimo possível do que preconiza a regulamentação para embutidos. E periodicamente os produtos passam por análise física, química e microbiológica. As carnes são 100% de lombo suíno e as boas práticas de manipulação tem monitoramento contínuo.

Até a abertura do box no Mercado Público, a Lingmone era apenas fornecedora para revendas. Hoje negocia também em feiras e eventos regionais. “Esta abertura dos negócios melhorou nossa vida. Minha filha ficou responsável pelo box no Mercado Público”, contou Jaqueline.

Toda carne e os produtos que entram na Lingmone tem certificado sanitário e acompanhamento de temperatura. A partir da entrega, passam pela recepção, processamento, moagem e adição de temperos, ensaque e defumação para depois ser embalada e destinada ao mercado consumidor.

Queijo passado por gerações

Herança da mãe, que aprendeu com a avó, o queijo entrou na vida de Alex Buratto, ainda criança. Ao termina o curso técnico agrícola no Cedup Caetano Costa, em São José do Cerrito, ele começou a aperfeiçoar a produção e em 2018, a venda informal não estava mais sendo possível, tamanha demanda.

Ao se deparar com uma nova realidade em que a produção artesanal abria caminho para escala, Alex decidiu formalizar a Lacticínios Keylex. Instalada no bairro Planalto Central, em Correia Pinto, a indústria foi batizada com a junção do nome da esposa Keyla e de Alex.

Desde que fincou a primeira estaca no terreno para construir a unidade, em maio de 2019, Alex levou o projeto à risca e em novembro daquele ano, já estava operando numa área de 40 metros quadrados e com o selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) ativo.

“Desde o começo procurei o programa de agroindústrias do Cisama e não tive dificuldades para legalizar minha queijaria. Procurei levar tudo certinho e sou grato à Andressa Barbosa que me orientou no passo-a-passo”, relatou Alex Buratto. A unidade dele opera inclusive de forma sustentável com aquecedor solar e 33 placas solares que geram uma economia de mais de R$ 1.500,00 por mês.

Desde as especificações técnicas da planta até a questão sanitária e tratamento de efluentes, a keylex teve assessoramento. A agroindústria de Alex optou por rótulo próprio, mas orientado da mesma forma, pelo programa de agroindústrias do Cisama.

Seis produtos com Selo Arte

Por semana, a Keylex está processando em torno 800 litros de leite que resultam entre 40 e 50 quilos de queijo. A unidade usa massa base do queijo tipo colonial, mas pasteurizado para os diferentes tipos de queijos, o que torna os produtos diferenciados e atraentes.

Mesmo estando há pouco tempo no mercado, a Keylex já tem seis queijos com Selo Arte, o que permite a venda em todo território nacional. O tipo colonial, colonial ao vinho, colonial apimentado, queijo colonial com salame tipo italiano, colonial temperado e quatro sabores.

A gama de produtos com Selo Arte deve aumentar ainda este ano, com ricota e creme de ricota que aguardam o selo. Alex solicitou também, junto ao programa de agroindústrias do Cisama, a certificação de equivalência do SISBI. Já passou por duas auditorias e a expectativa é que muito em breve todos os produtos de sua unidade possam ser vendidos Brasil afora.

Faxineira que virou empresária de panificados

Dona de um talento singular, Marina Xavier de Moraes Rafaele tinha um sonho. Poder vender suas bolachas e doces. Entendia que assim, estaria passando o que de melhor sabe fazer, além das faxinas como diarista, no centro em Lages.

Todos os dias, Marina levantava bem cedo para deixar tudo arrumado no sítio em que mora com o marido Marques Rafaele, na localidade Santa Terezinha do Boqueirão, Km-231, às margens da BR-282, e seguia para a rotina de diarista. Até que um dia conseguiu com uma conhecida deixar algumas bolachas na feira de produtos coloniais, promovida pela prefeitura.

Foi o que bastou para Marina receber convite para integrar o grupo de agroecologia e poder ela mesma, vender seus produtos. “Mandaram eu me ajeitar num cantinho e comecei levando duas cucas. Na outra semana levei quatro e fui variando a quantidade e tipos de produtos”, lembra a empreendedora.

Cinco meses de feira se passaram e Marina foi chamada a formalizar seus panificados, uma vez que era a única que não tinha o Selo Sabor Serrano. Sem um único centavo no bolso, se deparou com um novo desafio. Construir sua cozinha de panificados.

Por sorte conseguiu com uma amiga a época, R$ 7 mil emprestados. “Ela me emprestou o dinheiro sem juro e construí minha agroindústria. Meu processo era todo manual”, relata Marina. Em 2014, nasceu a Doces Artesanais da Marina que hoje produz dezenas de produtos panificados.

Só bolachas, a agroindústria de Marina produz uma infinidade como amanteigadas, fubá, amendoim, leite moça, sem glute, sem lactose, integral, sequilhos, rosca de erva-doce, toucinho-do-ceu, rosca de coalhada, cucas e pães de vários sabores. Tudo vai para as feiras públicas de agroindústrias em Lages e no Mercado Público.

Por semana, Marina processa no mínimo 200 quilos de trigo junto com o marido e três colaboradoras, numa jornada que inicia bem cedo e as vezes se estende pela madrugada. A consolidação do negócio só ocorreu após a orientação técnica da equipe da Secretaria de Agricultura do município e do programa de agroindústrias do Cisama.

Com o Selo do Sabor Serrano, a Doces Artesanais Marina tem mais de 50 tipos de produtos e clientes no Paraná, São Paulo, Florianópolis, Blumenau e dentre outros, Balneário Camboriú. E agora firmou contrato para entrega de produtos a merenda escolar, em Ponte Alta.

Pedagogas aposentadas são pioneiras no cultivo de cogumelos

Um documentário sobre cultivo de cogumelos despertou na pedagoga aposentada Soraya de Cássia Ramos Figueiredo, o desejo de cultivar cogumelos. Bastou uma rápida pesquisa na internet e Soraya convidou a também pedagoga aposentada e prima, Vera Maria Silva para ser sócia do negócio.

Nasceu assim a agroindústria Cogumelos Serranos no sitio Areal, localidade de Lambedor a quatro quilômetros da BR-282. Com foco na produção comercial, Vera e Soraya pesquisaram o mercado da região e não encontraram cogumelos frescos, apenas os processados. E foi exatamente neste nicho que apostaram.

Segundo elas, havia na época na região algumas pessoas que colhiam cogumelos nativos, mas não produziam em casa de cultivo com controle sanitário. “A diferença é que as nossas variedades são controladas por nós e conduzidas até a comercialização”, explicou Vera Silva.

Além das sementes selecionadas, os cogumelos cultivados pelas empreendedoras são monitorados com controle de umidade e temperatura. Até a quantidade de cogumelos a ser colhido é controlada de forma a estarem prontos para ir para o mercado.

Dentre as variedades cultivadas pela Cogumelos Serranos estão: Shimeji branco e cinza, Portobello, Champignon de Paris, Juba de Leão, Castanho, Eryngui, Cardoncello, Citrino, Salmão, Pulmonário. A colheita diária tem destino certo. Mercado Público, restaurantes, feiras, supermercados, fruteiras e casa de produtos naturais.

Há três anos, a Cogumelos Serranos vem conquistando um lugar no mercado e ainda assim, enfrenta uma concorrência muito competitiva. O processo produtivo consiste na compra dos blocos com a semente de cogumelo, higienização, seleção, indução de cultivo, irrigações diárias por até dez dias, colheita e interrupção de crescimento.

Mas isso tudo só foi possível, graças a assessoria do programa de agroindústrias do Cisama. Por ser fungo, não se encaixa na legislação de vegetais ou animais. E isso dificultou o entendimento das autoridades sanitárias para aplicar a legislação.

Superada a etapa sanitária, a Cogumelos Serranos definitivamente pode entrar no mercado com o rótulo Sabor Serrano, sendo a única agroindústria do gênero no programa.

Duas vezes mais proteínas que a carne

Fonte de vitaminas do complexo B, ácido fólico, cálcio, ferro, fósforo e zinco, os cogumelos possuem inúmeras propriedades medicinais, que fortalecem o sistema imunológico, controlam o colesterol e os hormônios da tireoide, além de combater o diabetes.

O cogumelo possui gordura insaturada e contém 21 aminoácidos essenciais para o corpo, e apresenta um número de proteínas duas vezes maior do que o encontrado na carne bovina.

Com volume de produção média de cinco quilos por semana, a Cogumelos Serranos luta para conquistar um mercado em que o quilo de seus produtos in natura está na faixa de R$ 90,00 e o desidratado R$ 180,00. E ainda, numa região em que a carne faz parte da cultura gastronômica.

De olho num futuro mercado consumidor, a Cogumelos Serranos lançou ano passado, a caixa de cultivo de cogumelo, que consiste no substrato com sementes das variedades Shimeji branco e cinza e Salmão, além do borrifador. O próprio consumidor cultiva seu cogumelo por ao menos três colheitas.

Para os próximos meses, a Cogumelos Serranos estabeleceu como meta aumentar a produção e atingir ao menos 50 quilos por mês. Mas para isso precisa de um mercado que absorva a produção, mesmo sendo o cogumelo um dos alimentos mais completos do mundo.