Hoje, uma profissão regulamentada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Mas a atividade de parteira por muitos anos foi desempenhada baseada no conhecimento empírico, uma vez que as unidades de saúde ficavam distantes das comunidades de interior e os recursos de transportes e locomoção eram muito difíceis.
Foi sob essas condições que Romilda Maria Lins, se tornou a maior parteira que se tem notícia em Abdon Batista. Talvez devesse receber o título de recordista de partos na região dos lagos, uma vez que parou a contagem de procedimentos ao atingir mil nascimentos de bebês.
Aos 82 anos, moradora da localidade Barra Grande, Romilda ainda guarda alguns dos objetos que usou por mais de 30 anos, como o estetoscópio de madeira para ouvir os sons cardíacos fetais. As pinças para o corte do cordão umbilical já não existem mais.
“Eu ouvia claramente os batimentos cardíacos dos bebês dentro da barriga da mãe com o estetoscópio”, afirma Romilda. Em 1966, ela realizou um curso básico sobre procedimentos obstétricos para facilitar a indução ao parto natural. Desde então, trabalhou por mais de três décadas sem cobrar nada, realizando os procedimentos.
Das atividades pacatas com os pais que moravam numa serraria para o desafio de fazer partos, Romilda sempre teve a clareza de que ao realizar um procedimento, tinha em suas mãos além da vida do bebê, a vida de uma mãe.
A cada parto anotava num caderno o sexo do bebê, a data de nascimento e o nome dos pais para que depois, pudessem fazer o registro de nascimento em cartório. “Quando deu mil nascimentos parei de marcar. O município se emancipou na época e a prefeitura começou a levar as pacientes para ser atendida fora. Daí fui parando de fazer os partos”, lembra Romilda.
Ao abordar uma parturiente, a primeira coisa que Romilda fazia era ouvir os sons fetais. Depois verificava as contrações e dilatação e fazia o acompanhamento até a concepção. E quando não evoluía para parto natural conduzia a pacientes para o hospital de Campos Novos, onde era submetida a cesariana.
Apesar das adversidades daqueles tempos, Romilda tem histórico de nunca ter perdido uma paciente ou bebê. Após a concepção, ela fazia o bebê colocar os pulmões para trabalhar pois fora o líquido que recebiam da bolsa amniótica, precisam de oxigênio e o choro do bebê ao nascer é importante nesse momento.
E foi assim que Romilda realizou também, o parto dos próprios filhos. Com ajuda do marido Cristiano Linz, ela deu à luz a quatro filhos, aplicando em si as técnicas que por muitos anos usou em pacientes por toda região dos lagos. Ela admite que “se pudesse voltar no tempo faria tudo de novo, exatamente da forma como fez”.
Texto/fotos: Onéris Lopes