PRINCIPAL atividade de 1.750 famílias na região da Amures, o plantio de vime teve uma quebra na safra deste ano que variou entre 30% e 80%, dependendo da variedade cultivada. A maioria são de pequenas propriedades e os prejuízos dos produtores variam entre R$ 10 mil e R$ 45 mil.
Na propriedade da família Tarhun, na localidade de Areião, em Bocaina do Sul, foram produzidas, em 2011, cerca de 16 toneladas, sendo que a média histórica da propriedade é de 80 toneladas. "Isso vai dar um prejuízo de cerca de 45 mil reais", diz Júlio Tarhun.
A variedade usada na propriedade deles é nativa da região, sendo a mais difundida entre os produtores.
Outros produtores usam variedades chilenas e argentinas, que foram trazidas por uma cooperativa para a região. Antônio Rogério Capistrano usa a variedade chilena, que julga de melhor qualidade e mais resistente ao frio, e acredita que foi isso que diminuiu seu prejuízo neste ano. A queda em sua propriedade foi de 30% em comparação ao ano passado. "O vime chileno não quebra quando a gente faz cestos e a vara tem uma melhor qualidade, pois nasce tudo parelho e a ponta não quebra, é bem melhor para trabalhar".
Apesar disso, algumas pessoas desconfiam que as variedades estrangeiras possam ter sido uma das causas da quebra da safra neste ano. O presidente do sindicato dos produtores rurais, Carlos Luiz Peron (também é produtor de vime), acredita que há um vírus ou alguma outra praga disseminada nas plantações, que, segundo ele, pode ter vindo com algumas das novas mudas estrangeiras.
A Epagri, porém, tem uma opinião diferente sobre o assunto. O engenheiro agrônomo, Antônio Edu Arruda, diz que o problema foi frio fora de época. "No início da brotação houve frio, impedindo o crescimento dos brotos".
Peron contesta essa informação, dizendo que em sua lavoura, teve vime com crescimento normal e outros não. O agrônomo responde que dentro de uma mesma lavoura pode haver diferenças. "Quanto maior o estágio de brotação, mais a planta sofre".
O filho de Carlos Luiz Peron, Jocemar, acredita na hipótese da Epagri, lembrando que houve uma pequena geada em dezembro, mas sabe que se o problema for outro, a quebra da safra pode se repetir. "A Epagri vinha aqui quando o vime dava dinheiro, na época se fazia a propaganda de ‘ouro verde', mas agora faz mais de um ano que não aparecem, eles não sabem me dizer exatamente o que está acontecendo".
A localidade onde Capistrano mora é a de Campinas (em Bocaina do Sul), onde moram cerca de 75 famílias, sendo que apenas sete não trabalham com vime. "Se o vime acabar, Campinas acaba", diz o produtor.
Antes do vime, as pessoas da região tinham como atividade principal o cultivo de fumo, que segundo Carlos Luiz Peron, está em crise também. "O vime melhorou muito a vida das pessoas, e, se der problema na safra do ano que vem, o problema vai ser grande".
Também em Campinas, Juca Capistrano Basquerote, um dos primeiros produtores de vime da região, está na mesma atividade há 44 anos conseguiu fazer um estoque de quase 30 toneladas, esperando por um preço melhor. "A gente gasta para preparar o solo e o preço do adubo está aumentando, mas para a gente vender o vime ninguém quer pagar mais", explica.
Uma parte de sua safra já foi vendida por R$ 1,50 o quilo, enquanto os insumos tiveram um incremento de 20%. "Gastamos mais com adubo, e o preço do vime não sobe", avalia.
Outra safra ruim faz com que Juca tenha medo de precisar se mudar para a cidade. "Para pagar juros de financiamento, o produtor aceita o preço que oferecerem. São poucos que conseguem fazer um estoque", explica.
Preço baixo é ruim, muito alto também
O preço de venda do vime varia de acordo com a região e com a qualidade. As varas mais retas e mais maleáveis têm um valor mais alto.
O preço pago para os produtores varia entre R$ 1,50 e R$ 2,20 por quilo, mas há cerca de quatro anos beirou os R$ 4. "O preço hoje está um pouco abaixo do normal, tem que subir um pouco mais, mas não pode subir muito", diz o produtor Gentil Tarhun.
A explicação que ele dá para não querer um preço mais alto é que isso mina toda a cadeia produtiva. Segundo ele, se o vime chegar aos R$ 4, os artesãos, que fazem cestos e outros produtos, não conseguem incrementar o preço de seus produtos e praticamente precisam pagar para trabalhar. "O vime sobe e o preço da peça não, fica ruim para quem faz cestas".
Juca Capistrano Basquerote fez um estoque com cerca de 30 toneladas de vime, que pretende vender até janeiro. "Hoje estão pagando R$ 1,50, mas tinha que subir bastante para poder vender". Ele explica que há cerca de cinco anos o preço vem caindo, mas os custos para a produção aumentam.
Cestas e ‘palitos' são alternativas controversas
Para agregar valor ao vime, alguns produtores fazem cestos e balaios, além de móveis. As opiniões divergem de produtor para produtor acerca da atividade.
Antônio Rogério Capistrano destinou três toneladas para confecção das peças, mas avalia que o preço delas continua o mesmo há bastante tempo, enquanto o preço do fundo de madeira e dos grampos usados aumentou. Ele mostra uma cesta de cerca de 40 cm de diâmetro, que vende a R$ 1,10.
Carlos Luiz Peron explica que a confecção de peças é boa porque toda a família pode ajudar e, geralmente são feitos no inverno, quando não se trabalha nas lavouras. Por outro lado, ele diz que esse tipo de atividade prejudica muito a saúde do produtor."Ele fica muito tempo parado e acaba tendo problema na coluna, porque quando tem encomenda, é feito serão e se trabalha de manhã, tarde e noite, enquanto o certo seria usar apenas um período do dia para isso", explica. As condições de confecção incluem ainda uma umidade muito grande, já que o vime exige que esteja molhado para ser modelado.
O preço da cesta é o mesmo pago pelo quilo de ‘palito', que é uma vara mais fina, usado para a amarração de parreiras. É uma espécie de refugo que, geralmente é vendido a produtores de uva no Rio Grande do Sul. Segundo Peron, este ano faltou palito. "É um problema se isso acontecer de novo, porque aí se substitui por outro material e o vime vai acabando. A mesma coisa com as cestas, que são uma espécie de embalagem e são descartáveis, sendo facilmente substituíveis.
"A Epagri sumiu"
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais protocolou um pedido de pesquisa sobre a quebra da safra em 17 de janeiro deste ano, mas, até agora nada foi feito, segundo os produtores. Carlos Luiz Peron avalia que em todas as propriedades visitadas no município de Bocaina do Sul, a reclamação é a mesma: não há assistência técnica para os produtores.
"Eles deveriam passar na minha propriedade pelo menos duas vezes no ano, e faz mais de um ano que nenhum técnico passa por aqui", diz Antônio Rogério Capistrano. Ele informa que precisou pagar para fazerem análises no solo e que quando os técnicos aparecem, "só vêm perguntarem se a lavoura é boa".
Juca Capistrano Basquerote diz que ano passado teve um veneno para matar uma lagartixa que atacava as folhas do vime, mas que até agora não recebeu nenhuma resposta. "Eles não vêm mais", diz.
O agrônomo da Epagri, Antônio Edu Arruda, explica que cada município tem uma estrutura de escritório, que abriga um engenheiro e um extensionista. "É um técnico para cerca de 300 famílias, então não é possível atender a todo mundo e em alguns momentos alguns produtores podem ficar sem assistência", explica.
Ele ainda diz que os escritórios não se negam a prestar assistência, mas avalia que a situação é conjuntural, ou seja, não existe técnicos em número suficiente para a demanda. "Não se atende só ao vime, mas toda a parte de agropecuária", explica.
Fonte: Correio Lageano/AMURES