A queda de uma menina de oito anos num penhasco de 30 metros na Serra do Rio do Rastro mobilizou os bombeiros de Orleans no começo da noite deste domingo. Foi necessário descer de rapel até o local onde ela se segurava na vegetação, com frio e sem noção da queda que poderia sofrer caso se soltasse.
A queda aconteceu por volta das 17h, e Isabela Moraes só voltou à terra firme cerca de uma hora depois. O cabo Edson Freitas, que efetuou o resgate e foi o primeiro a conversar com a garota, conta como foi a operação.
Diário Catarinense – Como estava o estado emocional de Isabela estava no momento do resgate?
Edson Freitas – Eu tive um tempinho para conversar com ela entre a hora em que desci até quando nos puxaram para cima. Isabela estava de costas para o penhasco, presa a um mato entrelaçado, e não tinha noção do tamanho da queda que poderia sofrer caso se soltasse. Tentei também mantê-la assim, para que não se assustasse ainda mais.
Ainda por cima, ela estava com muito frio, com um casaco amarrado na cintura em todo o momento, mas com medo de se soltar da vegetação para pegá-lo. Assim que desci, desamarrei o casaco e botei em volta da menina para tranquilizá-la até que chegássemos ao topo.
Ela estava com muito medo, mas também mostrava uma grande preocupação com a família, e se sentia culpada: queria saber de uma bota que tinha perdido, perguntava sobre duas bonecas que tinham caído no penhasco. Uma delas eu consegui recuperar, mas a outra havia caído, e para deixá-la mais calma, falei: "Deixa, o tio vai procurar a outra assim que te levarmos para cima".
DC – Os bombeiros de Orleans já fizeram o resgate de outras pessoas na Serra do Rio do Rastro. O que costuma acontecer? Como as pessoas se acidentam no local?
Edson – Há um mirante apropriado para os turistas, pavimentado e com um cercado, mas as pessoas não se sentem satisfeitas em ficar apenas ali. Querem tirar fotos de outros lugares, andar pelos arredores. A família da Isadora saiu da parte pavimentada e foi para um campo aberto a alguns metros do mirante. O local é bastante úmido, tem lodo, e na beira do precipício é mais seco, e por isso as pessoas costumam se pôr em risco dessa maneira. Se você observar, já existe um caminho no chão, na vegetação, feito pelas pegadas das pessoas que saem do mirante para olhar a paisagem.
DC – Estava escuro no local? Era possível aguardar por mais equipamento, por exemplo, para ajudar no resgate?
Edson – Eu também tenho uma menina de sete anos, e achei que precisava descer o mais rápido possível. Os bombeiros de Criciúma iam levar uma hora, e o helicóptero Arcanjo não conseguiu sair de Florianópolis porque já estava escurecendo. Na verdade, quando chegamos lá, já não tínhamos uma visão clara da garota, apenas a escutávamos. Ao contrário de um adulto, uma criança numa situação dessas não pode esperar muito tempo, pois há risco de ela dormir, se distrair, e acabar caindo.
DC – E as pessoas que observavam?
Edson – Nesta época há um movimento turístico intenso na Serra, principalmente por causa do frio. Então havia bastante gente observando, tivemos que botar um cordão de isolamento para fazer o resgate. Contando com três bombeiros e quatro policiais rodoviários, devia haver no máximo umas 17 pessoas no local. Várias dessas pessoas ajudaram a nos puxar para cima. O pai da garota também estava muito abalado, então amarramos uma corda na cintura dele e o deixamos perto do penhasco, para que pudesse conversar com a filha e tranquilizar os ânimos dos dois.
Fonte: Clicrbs