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Hortas comunitárias contam com auxílio mútuo dos projetos Lixo Orgânico Zero e Colheita Feliz, Escola S e Epagri para mobilizar comunidade

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Quantas vezes já se ouviu dizer por aí, “mexer com a terra é uma terapia, faz bem para o corpo e para a alma!”? A frase já batida tem lógica, e mais, “colocar a mão na massa” é sinônimo de ampliar os horizontes do conhecimento sobre um assunto que faz qualquer um parar o que está fazendo para ouvir: Alimento. Quer ver só?
Em Lages foram implantadas mais de 50 hortas comunitárias e escolares do Projeto Colheita Feliz – Produção orgânica, alimento mais saudável, idealizado pela Secretaria Municipal da Agricultura e Pesca, com a proposta de preparo, implantação, assessoria técnica e a “cereja do bolo”, manutenção pela própria comunidade, a beneficiária das hortaliças cultivadas. Um exemplo que rompeu a divisa dos canteiros é a horta comunitária do bairro Universitário, que agora conta com um time de peso nos cuidados de revitalização: estudantes do ensino médio da Escola S, mantida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Social da Indústria (Sesi), impulsionados pelo Projeto Lixo Orgânico Zero (LOZ), executado pela Secretaria de Serviços Públicos e Meio Ambiente, estão literalmente colocando a mão na terra e vivenciando as sensações de poder cooperar com a sociedade residente do bairro onde está instalada a instituição de ensino, o Universitário, a horta do Projeto Colheita Feliz, inaugurada há mais de dois anos, na esquina entre as ruas Sebastião Ramos Schmidt e Archilau Batista do Amaral. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) presta suporte técnico.
Estão dentro do Projeto os alunos de 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, pois a Escola S possui a disciplina de Projeto Livres na grade curricular, componente do Ensino Médio Integrado com o Itinerário de Educação Básica (STEAM), nos dois anos finais do ensino médio e, em Lages, “linkada” às hortas. Atualmente são quatro turmas de ensino médio, totalizando 120 alunos. Todas irão atuar nas hortas, contudo em 2022 a preferência é do “terceirão”, devido à época de despedida da Escola. A Escola S também possui ensino técnico.
No bairro Gethal está oferecido da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental. Professores e alunos do Gethal participaram de atividades de educação ambiental no Mês do Meio Ambiente, junho.
Este trabalho prático na horta do bairro Universitário iniciou em junho de 2022, a partir de visitas ao aterro sanitário, no distrito de Índios, a outras hortas e à Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis de Lages (Cooperlages), localizada no bairro São Miguel. Então a Escola S, a partir do conhecimento da realidade durante o passeio do Projeto Conhecendo os Destinos do Lixo, da prefeitura, optou em realizar alguma ideia para mudar o panorama da questão do lixo.
A horta do bairro Universitário foi entregue para o Município pela pessoa que estava em sua responsabilidade por motivos de problemas de saúde de morador e, junto à presidência da Associação de Moradores, às secretarias da Agricultura e Pesca e Serviços Públicos e Meio Ambiente e à Escola S, viabilizou-se a adoção do espaço pela unidade educacional para sua revitalização e otimização. A partir da decisão foram feitas limpezas e reorganização de canteiros, com a parceria das duas secretarias municipais e os alunos envolvidos. A horta estava em estado de má conservação, precariedade e abandono.
Os adolescentes estão desenvolvendo o processo de plantio da horta e a comunidade terá seu acesso, incluindo Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Centros de Educação Infantil Municipal (Ceims) e Escolas Municipais de Educação Básica (Emebs). Serão mais de 1.200 mudas. Têm alface, chicória, cenoura, beterraba e cebolinha. As tarefas acontecem pelo menos uma vez por semana.
As mudas são fornecidas pelo Município, por intermédio do Horto Municipal do bairro Guarujá, mantido pela Secretaria da Agricultura e Pesca, e disponibilizadas pelo Projeto Lixo Orgânico Zero (LOZ), adquiridas sementes no montante superior a R$ 30 mil. Esta compra com estes recursos financeiros públicos é proveniente de uma contrapartida de um projeto da Caixa Econômica Federal (CEF), que encerrará agora em novembro deste ano. As sementes foram compradas e doadas para a Agricultura modificá-las de sementes para mudas, dinâmica que já vem acontecendo há cerca de três anos. O Projeto Lixo Orgânico Zero terá continuidade no próximo ano, porque trata-se de um projeto da sociedade lageana. O montante do projeto da Caixa era R$ 985 mil.
Saiba mais!
O Projeto Lixo Orgânico Zero (LOZ) tem o patrocínio financeiro do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal (FSA CEF) e do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA)/Ministério do Meio Ambiente, mediante convênio após vencer um prêmio, em 2017, para recebimento de quase R$ 1 milhão para investir no incentivo à reciclagem do lixo orgânico no município. Na ocasião Lages concorreu com 320 projetos de todo o Brasil. Em função da pandemia, estes respaldos foram reprogramados para 2021. Portanto, o foco em 2020 foram as divulgações nas mídias sociais, e o público pôde conhecer melhor o Projeto LOZ. É executado pela prefeitura de Lages em parceria com o Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Quem vai cuidar, levanta a mão!
Quando pronta, o portão estará fechado apenas com um laço de tecido para que cães não invadam o local, porém, as pessoas poderão entrar a qualquer momento e usufruírem dos alimentos com comprometimento, retirando os indesejados “matinhos”. “Pois nós entendemos que horta comunitária é isto: Plantar, colher e ajudar na manutenção para poder se servir”, ensina a diretora de Meio Ambiente, Silvia de Oliveira, ao complementar: “As pessoas podem trazer suas ‘mudinhas’ também. É um ciclo de colaboração. Horta não é trabalhosa, é prazerosa. Horta é vida.”
Logo mais, em dezembro, os alunos entrarão em férias escolares e, à medida que os cidadãos colham as hortaliças, estes poderão também fazer a manutenção da horta, como maneira de reconhecimento e cumprindo seu papel social e de empatia coletiva. Terminado o tempo de descanso pré volta às aulas, os alunos irão retornar à manutenção da horta, contudo, a comunidade permanecerá atuante neste processo de preservar a fluidez do funcionamento.
Da simplicidade ao efeito nobre
O princípio do cultivo da horta consiste no aproveitamento de materiais. Havia mudas de mostarda que caíram na terra e foram imediatamente utilizadas para o plantio. Após a limpeza foi efetuada a compostagem com o uso do vasto material compostado já existente no lugar. Os resíduos produzidos pelo restaurante da Escola S serão transportados até a horta. O premiado Método Lages de Compostagem aparece como uma das ramificações do Projeto Lixo Orgânico Zero (LOZ).
Aspersores farão a irrigação, mas a diretora de Meio Ambiente, da Secretaria de Serviços Públicos e Meio Ambiente, e uma das idealizadoras e coordenadora do Projeto Lixo Orgânico Zero (LOZ), Silvia de Oliveira, adianta que será necessária pouca quantidade de água em razão da poda triturada. “Nós colocamos esta poda triturada sobre os canteiros na semana passada com os estudantes. Hoje (3 de novembro – quinta-feira) nós estamos no plantio, fazendo os buraquinhos para por as mudas, e a terra está super úmida por causa das chuvas recentes. Com a poda triturada, vai evitar 80% de irrigação. O material compostado que está ali também contribui que a terra esteja com umidade”, explica.
Lajotas de concreto residuais das obras de revitalização do Parque Jonas ramos (Tanque) foram selecionadas e inseridas na horta como calçadas, ou “caminhos” para evitar embarrar os calçados. Com os “caminhos”, a manutenção ficará mais prática, pois não haverá mato criado nos meios. “Como temos muita poda triturada, muito composto aqui, a gente tira o ‘matinhos’ com a pontinha do dedo. Hoje a gente está usando a enxada porque temos de fazer os ‘caminhos’. Mas a maioria do trabalho é feita com ‘pazinha’ de jardim ou com a ponta do dedos. E é bom, aliás, para não precisar pisar no barro. Assim o ambiente fica mais limpo e a passagem, facilitada. É a questão da sustentabilidade, tudo que vai, volta”, celebra Silvia de Oliveira.
O case no bairro Várzea: participação da comunidade gerou o aumento da horta pelo dobro de tamanho em um ano
Outras hortas comunitárias do Projeto Colheita Feliz irão receber revitalizações. A atividade de Educação Ambiental da Secretaria de Serviços Públicos e Meio Ambiente começou com a horta do bairro Várzea, através da união com a Associação de Moradores. “Esta iniciou em junho do ano passado. Tem um ano e já foi dobrada de tamanho por causa da participação comunitária. O presidente do bairro nos chamou para auxiliar. O pontapé do nosso trabalho de envolvimento foi em julho de 2021, na primeira colheita. A horta tinha aproximadamente 350 metros quadrados e hoje tem 600 metros. A comunidade ‘pegou junto’ no cultivo e manutenção, e eles têm mais coisas, um parque infantil e uma Academia da Terceira Idade (ATI)”, detalha a diretora de Meio Ambiente, Silvia de Oliveira, ao lembrar da experiência exitosa.
Fala, professor!
Alex Junior Eger trabalha com Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Projetos Livres e na coordenadoria no aspecto da horta na Escola S. O Projeto está denominado como Plantando Sustentabilidade/Colheita Feliz, associado e aderido pelo ensino médio. “Nós moramos em um centro urbano bem grande, muitos deles (dos alunos) não têm acesso a um canteiro, a uma horta, a mexer a mão na terra, e a gente sabe que a necessidade de desenvolver uma agricultura mais orgânica e mais sustentável e cuidar do meio ambiente são importantes e urgentes. Portanto, em parceria com o pessoal das secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura, conseguimos ter esta aproximação. Aceitamos o desenvolvimento deste projeto com bons olhos e estamos todos extremamente felizes e satisfeitos de fazermos parte da comunidade”, acredita o professor.
Fale, jovem!
A estudante Lívia Granemann de Oliveira está no terceiro ano do ensino médio. Ela e a colega, Rebecca Bevacqua, coordenadoras do Projeto Escola S Sustentável, criaram a ideia de levar pensamento ecológico para dentro e fora da sala de aula. “O projeto iniciou ano passado como iniciativas de trazer um pensamento mais ecológico para a Escola S. Com outras ações relacionadas, por exemplo, organizar descarte do lixo na Escola e visitas ao aterro sanitário e cooperativas. A ideia principal não era a horta, mas claro que faz todo o sentido. Uma experiência que não tem em todas as escolas. A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) impediu que ingressássemos na horta diretamente. Com a pandemia, a gente aprendeu a dar mais valor ao que importa. Antes a gente tinha livre acesso a estar fora de casa e plantar o que quisesse e não fazia, mas a coisa mudou de figura. Agora estamos tomando conta da horta, isto é cidadania”, pontua a garota Lívia.

 

Por Daniele Mendes de Melo